10 Comentários

Acalanto para abstinências e vazios

é a falta e a lacuna quem cria
(Paul Valéry)

anthology+by+Craig+Parker

é para agasalhar ausências que teço este poema
fantasmas não dormem
anseios me esperam

o que urge além do lábio e da palavra
é o mesmo que me trinca o esmalte dos dentes
vindo da lacuna que ocorre no rastro do voo
de cada pássaro que ousei ser
neste não sentir talhado nos ossos
feito rios secos a riscar-me a pele
álveos calcinados
onde escorrem congeladas
a doçura e a tortura
de vozes e olhares idos ou perseguidos
dentro de um pretérito que me bate à cara
ou em um porvir que se me escancara

é para agasalhar ausências que teço este poema
de vazios e de abstinências
e me permito à lagrima
tanto quanto ao riso

(Celso Mendes)

 

 

Imagem: anthology, fotografia, 2006, por Craig Parker (Flickr/panic-embryo)

Sobre Celso Mendes

escritor? não. alguém que quer ver a palavra emergir a apontar imprevisíveis direções. deixá-la crua ou temperá-la, pouco importa a receita ou o formato, importa ver aonde aponta e onde toca. e ser por ela tocado.

10 comentários em “Acalanto para abstinências e vazios

  1. Um poeta de primeira grandeza! Deleitei-me nesse mergulhar profundo.

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  2. Muito lisonjeado pela presença de todos e pelas leituras. Abraços a todos!

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  3. Sim, ausências são inspiradoras: aqui mais uma prova!
    Sentido e assimilado.

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  4. Muito bom mesmo!

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  5. Muito bom! Adorei! 🙂

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  6. Meu Deus! Esplendoroso…parabéns poeta! Aplausos..compartilho.

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  7. Show, bicho. Tu és
    um grande poeta!

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  8. Belíssimo! Tua palavra esculpe imagens com maestria. Beijos

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  9. Amei! Agora vou ler de novo. É impossível resistir.

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